A Rebelião de Sarbadar: Uma Explosão Religiosa Contra o Império Mongol Ilkhanato e as suas Ramificações Geopolíticas na Pérsia do Século XIV

O século XIV foi um período turbulento para a Pérsia, marcado por mudanças dinásticas, conflitos internos e a ameaça constante dos invasores mongóis. A ascensão do Ilkhanato, um estado mongol liderado pela linhagem de Hulagu Khan, trouxe consigo uma nova ordem política, mas também gerou resistência entre as populações locais. É nesse contexto que se desenrola a Rebelião de Sarbadar, um evento crucial que marcou profundamente a história da Pérsia e deixou um legado duradouro nas relações entre governantes e governados na região.

A Rebelião de Sarbadar foi um levante armado liderado por Hasan-i Sabbah Sarbadar, um líder religioso que se autoproclamava descendente do profeta Maomé e defendia a restauração da fé islâmica tradicional contra a influência mongol. O Ilkhanato, sob o comando de Ghazan Khan, tinha adotado o islamismo xiita como religião oficial, uma medida que visava consolidar o poder entre as populações locais. No entanto, essa mudança não foi bem recebida por todos, especialmente entre grupos que seguiam interpretações mais rigorosas do islã sunita.

Sarbadar aproveitou esse descontentamento para mobilizar seguidores, prometendo a purificação da fé e a expulsão dos invasores mongóis. O movimento ganhou força rapidamente, atraindo camponeses descontentes com os impostos cobrados pelo Ilkhanato, comerciantes que se sentiam prejudicados pelas novas políticas econômicas e grupos religiosos que ansiavam pela reimplantação do islamismo sunita como religião dominante.

A revolta teve início em 1338, numa região montanhosa do atual Azerbaijão Oriental. Sarbadar utilizou táticas de guerrilha para atacar as forças do Ilkhanato, aproveitando o terreno acidentado para surpreender seus inimigos. A resistência feroz dos rebeldes surpreendeu os mongóis, que esperavam uma resposta mais passiva da população local.

A revolta espalhou-se rapidamente por outras regiões da Pérsia, galvanizando grupos descontentos com o domínio mongol. Em resposta, Ghazan Khan enviou exércitos para sufocar a rebelião. Os confrontos foram violentos e sangrentos, deixando milhares de mortos em ambos os lados.

Embora inicialmente bem-sucedida, a Rebelião de Sarbadar acabou sendo derrotada pelas forças superiores do Ilkhanato. Sarbadar foi capturado e executado em 1340, mas a revolta deixou marcas profundas na sociedade persa.

Consequências da Rebelião de Sarbadar:

• Reafirmação do poder Mongol: A vitória do Ilkhanato sobre a Rebelião de Sarbadar reafirmou o domínio mongol na Pérsia, apesar dos desafios. Ghazan Khan utilizou a repressão como ferramenta para reforçar sua autoridade e silenciar qualquer voz dissidente.
• Intensificação da rivalidade entre sunitas e xiitas: O conflito religioso que marcou a Rebelião de Sarbadar acentuou a divisão entre sunitas e xiitas no mundo islâmico, alimentando um ressentimento que perduraria por séculos.
• Legado de resistência contra opressores: Apesar da derrota militar, a Rebelião de Sarbadar tornou-se um símbolo de resistência contra o domínio estrangeiro na Pérsia. O exemplo de Hasan-i Sabbah Sarbadar inspirou movimentos futuros que lutariam pela liberdade e autonomia do povo persa.

A Rebelião de Sarbadar, embora breve em termos cronológicos, teve impacto duradouro nas relações políticas, sociais e religiosas da Pérsia no século XIV. Este evento demonstra a força do sentimento religioso como motor de mobilização popular e a capacidade das populações subjugadas em desafiar o poder dominante.

Para entender melhor a dinâmica social e política que envolveu a Rebelião de Sarbadar, podemos analisar os principais grupos envolvidos no conflito:

Grupo	Posição	Motivação
Hasan-i Sabbah Sarbadar e seus seguidores	Líderes da Rebelião	Restauração do islamismo sunita tradicional e expulsão dos mongóis
Ghazan Khan e o Ilkhanato	Governantes Mongois	Manutenção do poder e controle da Pérsia

A complexidade deste evento histórico nos mostra que a narrativa simplista de “opressor” versus “oprimido” não é suficiente para captar a verdadeira natureza das relações sociais no século XIV. A Rebelião de Sarbadar demonstra como diferentes grupos, com interesses e motivações próprias, se entrelaçam numa teia complexa de conflitos e alianças.